quinta-feira, 4 de novembro de 2010

A Essência


Estavam sentados, cada um de seu jeito, em uma enorme sala. Um estava deitado, olhando para o teto, com uma manta vermelha e um turbante amarelado, descalço. O outro, sentado como um imperador, estava com uma túnica branca e um livro em sua mão, todo preto. O terceiro, sentado com as pernas cruzadas, estava nu, apenas com a almofada que encontrara tampando suas partes.

Ambos eram velhos, sábios e com fortes argumentos. Sabiam o que falar.
O mais velho, levantou-se e disse:
- Nos situamos aqui por apenas uma razão, queremos saber quem é o melhor. Queremos reconhecer que, entre nós, há o mais sábio, o mais fundamental.
Todos se olharam. Começaram a elaborar seus argumentos, cada um com seu estilo próprio, até que o primeiro, o mais jovem, resolveu levantar-se e falar:
- Como já lhe são de conhecimento, me chamo Amor. Sou aquele que cruza os destinos das pessoas, aquele que traz o sorriso para o rosto daqueles que se amam. Não sou apenas o amor dos apaixonados, mais que isso, sou o amor de um pai com seu filho, de um animal com seu dono, sou o gostar exacerbado. Definitivamente, sou o melhor de todos aqui. Sim, sou o mais novo, mas sou o que mais gera alegria, o que mais fica lembrado no coração daqueles que já me usaram ou me usam. Por isso eu me acho melhor, sou aquele que traz alegria à todos. E a alegria é o que faz a pessoa.
O homem nu se levanta e protesta:
- Como você pode dizer que é o melhor entre nós? Dizer que o amor só traz a alegria está muito errado, meu caro. A felicidade de um amor não correspondido, de um amor que acabou, de um amor com espinhos, acaba. O que sobra é o sofrimento.
Muito prazer, eu sou a alma. Sou aquela que todos tem, que ninguém vive sem. Sou aquela que faz com que todos sintam, sofram, vivam. Sou insubstituivel, única. Isso é ser a melhor de todas. É fazer com que os outros não vivam sem você, que precisem de você o tempo inteiro. Definitivamente, eu sou a melhor.
O mais velho fechou seu livro, olhou para todos, acendeu seu cachimbo e iniciou sua fala:
- Como sabes, minha cara alma, que todos tem a você? Como sabes, ainda, que todos prezam você? Não me apresentei ainda: Sou a morte. Sim, sou aquela que tira a vida dos outros, que faz com que elas percam suas almas. Sou a única coisa que as pessoas tem certeza no mundo. Sim, eu sou a melhor. Sou a melhor por fazer com que elas me admirem e me temam.
O silêncio predominou a sala, todos estavam pensando no que dizer agora. Seus argumentos não eram o bastante para destruir um ao outro.
A porta se abriu, uma sombra foi se formando, se transformando em uma linda mulher, nova, com um belo vestido turquesa e uma coroa de flores em sua linda cabeleira ruiva. Ternamente, a bela mulher olhou para os velhos rabugentos e falou:
- Meus caros senhores, não gastem palavras com coisas tolas. Ao menos vocês sabem o que são?
Todos fizeram que sim com a cabeça. O mais jovem ia falar, mas a doce mulher iniciou mais uma vez:
- Vocês sabem que o amor é mais do que apenas gostar? Vocês sabem que a alma é muito mais do que a rasão e a emoção? Vocês sabem que a morte é muito mais do que parar o coração? E, o mais importante, vocês sabem que a união de vocês três forma o que há de mais importante no mundo?
- E o que há de mais importante no mundo? disse rapidamente o jovem, curioso.
- Sou eu, a vida. Sem vocês eu não existiria. Suas combinações menos individualistas formam a perfeição. E que não sou eu, e sim, o homem.

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