segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Fight with Words


Lutar com palavras é a luta mais vã. Entanto lutamos mal rompe a manhã. São muitas, eu pouco. Algumas, tão fortes como o javali. Não me julgo louco. Se o fosse, teria poder de encantá-las. Mas lúcido e frio, apareço e tento apanhar algumas para meu sustento num dia de vida. Deixam-se enlaçar, tontas à carícia e súbito fogem e não há ameaça e nem há sevícia que as traga de novo ao centro da praça.
- Carlos Drummond de Andrade

Assistia eu à uma palestra da ilustríssima escritora brasileira Ana Maria Machado. Mulher de contracorrente: sempre teve como ideal extinguir as correntes de ferro que amordaçam a liberdade dos homens. Mulher essa tão inédita que preferira começar suas estórias com o clássico "...viveram felizes para sempre" e terminá-las com "Era uma vez...".

Na palestra, Ana Maria chamava atenção sobre o trabalho da escrita. Dizia ela que a obra não é fruto de sensacionalismo, mas de responsabilidade. Que aqueles que se empenham a escrever um livro, devem fazê-lo sem dar ouvidos às inspirações romancistas que, muitas vezes, são todas por nós inventadas. O trabalho literário - dizia ela - é algo racional, onde o escritor faz acordo com seu talento, numa luta sem fim com as palavras.

Confesso que isso me chamou muita atenção. Ora, é bem verdade que muitas vezes somos preguiçosos na escrita porque pensamos que toda obra literária deve vir acompanhada de influências externas, meras inspirações passageiras. Não. O trabalho de escrever é duro e deve, isso sim, vir acompanhado de um compromisso em expor o que está preso em nossa mente.
 
 

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